sábado, 25 de fevereiro de 2017

A História do Violão

Introdução


O Violão é sem dúvida um dos instrumentos muito populares do mundo. Além de ser um instrumento de tamanho relativamente compacto, muito da sua popularidade se deve ao baixo custo de aquisição, ao som agradável que emite e ao fato de não necessitar de uma ligação elétrica, o que o torna um instrumento muito prático.

A História do Violão e sua Origem é no mínimo impressionante e curiosa, quando se pesquisa sobre o assunto encontramos sempre duas hipóteses possível a respeito de seu surgimento e evolução, conforme explicamos a seguir: 

Primeira hipótese para a origem do violão: 
Khetara grega



O violão seria derivado da chamada Khetara grega, que com o domínio do Império Romano, passou a se chamar Cítara romana. Era também denominada de Fidícula.Teria chegado à península Ibérica por volta do século I d.C. com os romanos; este instrumento se assemelhava à Lira e, posteriormente foram acontecendo as seguintes transformações: os seus braços dispostos na forma da lira, foram se unindo, formando uma caixa de ressonância, à qual foi acrescentada um braço de três cravelhas e três cordas. A esse braço foram feitas divisões transversais (trastes), para que se pudesse obter várias notas de uma mesma corda, a ser tocado na posição horizontal. Assim, ficam estabelecidas as principais características do Violão.


Segunda hipótese para a origem do violão: Alaúde Árabe

Alaúde. De origem árabe, com larga difusão na Europa da Idade Média ao Barroco.
Instrumento de 6 pares de cordas feitas de tripa. Cabeça dobrada para trás e fundo boleado. 

O Violão teria sido originado no antigo Alaúde Árabe. Esse instrumento foi levado para a península Ibérica através das invasões muçulmanas, por volta dos anos 711 – 718, sob o comando de Tariz. 
O Alaúde Árabe que penetrou na península na época das invasões, foi um instrumento que se adaptou perfeitamente às atividades culturais da época e, em pouco tempo, fazia parte das atividades da corte. Esse instrumento musical era conhecido desde o século VIII, tanto o de origem grega, como o Alaúde Árabe, e viveram mutuamente na Espanha. Através das descrições feitas no século XIII, por Afonso, o sábio, rei de Castela e Leão (1221-1284), que era um trovador, se pôde comprovar que no século XIII existiram dois instrumentos distintos, convivendo juntos. 


O primeiro era chamado de Guitarra Mourisca e era derivado do Alaúde Árabe. Este instrumento possuía três pares de cordas e era tocado com um plectro (espécie de palheta); possuía um som ruidoso. 


O outro era chamado de Guitarra Latina, derivado da Khetara Grega. Ele tinha o formato de oito, com incrustações laterais, o fundo era plano e possuía quatro pares de cordas. Era tocado com os dedos e seu som era suave, sendo que o primeiro estava nas mãos de um instrumentista árabe e o segundo, de um instrumentista romano. Isso mostra claramente as origens bem distintas dos instrumentos, uma árabe e a outra grega; que coexistiram nessa época na Espanha. Vemos, portanto, como a origem do Violão e sua evolução estiveram intimamente ligadas à Espanha e a sua história.


Vihuela. Muito popular na Espanha e Portugal. Formato parecido com um 8.
Seu fundo é plano e conta com seis ou sete pares de cordas feitas de tripa,
que se acredita que afinavam em uníssono.
 

O violão desenvolvido na Espanha passou a ser chamado de Vihuela. O mesmo tinha o formato de “oito”, com incrustações laterais, um fundo plano, além de seis até sete pares de cordas, feitas de tripa, as mais grossas eram entornadas de prata, afinadas geralmente em Sol, Dó, Fá, Lá, Ré, Sol, poderiam também serem afinadas em Dó, Fá, Sib, Ré, Sol, Dó, tocadas com os dedos, fato que resultava na geração de um som bastante suave. Os trastes eram feitos de tripa amarrados ao braço. Foi a partir da vihuela que surgiu o violão como conhecemos hoje, mas antes ele passou por várias transformações e evoluções, variando a quantidade de cordas duplas, às vezes duplas e simples. 


A Vihuela evoluiu para a Guitarra Renascentista, que foi a sua versão simplificada. Possuía 4 ordens de cordas de tripa, sendo 3 cordas duplas e a primeira corda uma apenas.

Guitarra Renascentista. Séc. XVI 

A afinação não era padronizada, pois poderiam ser afinadas em Lá(1), Mi(2), Dó(2), Fá(2), sendo o Fá, que era o par de cordas mais grave era em oitava. Poderia também ser afinada em Lá(1), Mi(2), Dó(2), Sol(2), sendo o Sol, que era o par de cordas mais grave, afinado em oitava, por fim, também poderia ser afinada em Si(1), Fá#(2), Ré(2), Sol(2), sendo a corda Sol, que era o 4º par de cordas, era afinada a apenas meio tom acima do Fá#, ou seja, o 3º par de cordas era mais grave que o 4º par de cordas. Bem estranho, não? Os números entre parênteses ao lado das notas acima referem-se a quantidade de cordas na ordem de afinação. Esse instrumento tinha o braço mais curto com apenas oito trastes. 
A Guitarra Renascentista evoluiu para a Guitarra Barroca, que passou a ter 5 cordas duplas, também feitas de tripa, afinadas em Mi, Si, Sol Ré e Lá. 
Guitarra Barroca. Até fim do Séc. XVII 
Os trastes eram também feitos de tripa, e amarrados ao braço. O braço sofreu um pequeno alongamento ganhando mais dois trastes, somando um total de 10 trastes no braço e mais 3 sobre o tampo. 


O próximo passo evolutivo foi a Guitarra Romântica, que passou a ter 6 cordas simples, tais como conhecemos hoje. Foi acrescentada a 6ª corda Mi, duas oitavas abaixo da 1ª corda. Gaetano Vinaccia (1759 a 1831), foi quem criou esse instrumento, em 1776, em Nápoles, na Itália. 


O homem conhecido como “Pai do Violão Moderno” deixou sua marca permanente na história do violão e como ele é desenhado e tocado até hoje.


Guitarra Romântica. Cerca de 1800. 

Ainda era um pouco menor que o nosso violão atual, mas começou a ganhar dimensões maiores que a antiga guitarra barroca. Um detalhe, ainda possuía cravelhas de madeira para afinar as cordas e a cabeça possuía formato de oito. Mais tarde, as cravelhas de madeira foram substituídas por máquinas de afinação de metal, as tarraxas que conhecemos hoje.

Guitarra Romântica. foi feita por Gaetano Vinaccia em Nápoles, Itália em 1821.
Em 1976 ele construiu a 1ª guitarra de 6 cordas

Seus trastes foram mudados de tripas para ébano primeiramente, depois marfim e finalmente metal, aumentando em quantidade para um total de 19. Seu corpo começou a ganhar forma de oito mais acentuadas. Sua decoração limitou-se a apenas no entorno da boca e nas bordas do corpo.

Finalmente a Guitarra Moderna tal como conhecemos hoje, chamada pelo mundo afora de Guitarra Clássica. O nosso Violão. Com Formato de oito bem acentuado e caixa maior e mais larga em baixo na altura do cavalete. O tampo é reforçado para suportar as tensões das atuais cordas de nylon ou aço. A cabeça perdeu o formato de oito ganhando traços mais retos. Suas Tarraxas possuem engrenagens mecânicas em metal, do tipo carrilhão, com eixo de rotação paralelo ao plano da cabeça, 19 trastes metálicos, decoração apenas no entorno da boca.


A Guitarra Clássica (Violão atual).

O Termo Violão
Esse instrumento, a Guitarra Clássica, chegou em Portugal, no século XVIII. Como era parecido com as Violas portuguesas mas possuía o corpo bem maior, seis cordas simples e sonoridade mais grave (por causa da 6ª corda acrescentada), passou a se chamar Violão (uma Viola grande). Esse termo foi utilizado em Portugal até meados do séc. XX, mas hoje é chamado apenas de Viola, já as antigas Violas portuguesas são chamadas de Viola de 10 Cordas. Aqui no Brasil, ocorreu o mesmo fenômeno linguístico, o termo Viola, já era utilizado para designar o ancestral do instrumento que hoje conhecemos como Viola Brasileira, Viola Caipira ou Viola de 10 Cordas. Quando esse novo instrumento desembarcou aqui no Brasil, no séc. XIX, o termo Violão foi imediatamente assimilado, visto que, ele era bem maior que a Viola.

Mas esse processo evolutivo não parou por aí, pois o próprio Violão deu origem a outro conhecidíssimo instrumento: a Guitarra Elétrica.



Curiosidade: somente no Brasil existe a palavra “Violão”. No resto do mundo, as pessoas se referem a este instrumento por “Guitarra Clássica”. Já a nossa Guitarra, para todo o resto do mundo, é a “Guitarra Elétrica”, realidade que gera confusão em muitas pessoas.

Abaixo uma imagem descrevendo a evolução do Violão a partir da Guitarra Renascentista. A evolução do Violão



1 - Guitarra Renascentista feita em 1581 pelo luthier Belchior Diaz, (4 cordas duplas)

2 - Recriação da Vihuela Renascentista, Séc. VX, (6 cordas duplas).
3 - Guitarra Barroca do famoso luthier Stradivari, de 1700, (5 cordas duplas).
4 - Guitarra Romântica, do luthier Louis Panormo, de 1830, já com tarrachas (6 cordas simples).
5 - Guitarra da Segunda Época, 1888, reconhecidamente moderna, (6 cordas simples).
6 - Guitarra atual, (6 cordas simples).

Se você quiser ouvir como soam alguns desses instrumentos precursores do Violão, inclusive em estilo de música da época, assista o vídeo: Tiago Matias, do alaúde à guitarra, do canal do Youtube Tiago Matias.



Referências Bibliográficas:

· A Evolução do Violão na História da Múscica / autor: Eduardo Fleury Nogueira / 1991 / São Paulo.
· História do Violão / autor: Norton Dudeque / 1958 / Curitiba.
· The history of musical instruments. Curt Sachs, W. W. Norton & Company, Inc., 1941
· The Medieval Gittern and Citole: A case of mistaken identity. Laurence Wright, The Galpin Society Journal, number xxx. May 1977
· Los instrumentos del Pórtico de la Gloria su reconstrucción y la música de su tiempo.Coordinación: José Lopez-Calo. Fundación Pedro Barrié de la Maza, Conde de FENOSA, 1993.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Curiosidades e Dicas

Apresentamos aqui Várias Curiosidades e Dicas do mundo da Música. Seja no âmbito de Teoria Musical, Harmonia Funcional, Improvisação, Bandas, Shows, Músicos etc.
Espero que você curta cada vez mais.

Uma Breve História da Notação Musical

Chamamos de Notação musical qualquer sistema de escrita que represente graficamente uma peça musical, ou um conjunto de sinais gráficos que representam uma cadência de sons, permitindo a um músico que a execute mesmo que não a tenha conhecido anteriormente.

O sistema de notação mais utilizado é o sistema de Pauta de Música ou Pentagrama. O Pentagrama é a reunião de 5 linhas paralelas e equidistantes. São nas linhas e nos espaços entre elas que escrevemos as notas musicais.


O Pentagrama nem sempre foi assim. Para entender melhor como surgiu o pentagrama assista ao vídeo História da Música - Notação Musical I, do canal do Youtube Cifra Club.




https://www.youtube.com/watch?v=UnRxsvfBxiY

domingo, 19 de fevereiro de 2017

11- As Claves.

Clave é um sinal que usamos no início da pauta e serve para determinar a localização das notas nela. Existem 3 tipos de Clave, a Clave de Fá, a Clave de Sol e, muito raramente usada, a Clave de Dó.


Elas existem por causa dos vários tipos de instrumentos musicais, pois os instrumentos podem ser de som agudo, como o violino, ou muito grave, como o Contrabaixo.
Imaginem se houvesse somente uma clave. Alguns instrumentos seriam escritos somente nas regiões mais baixas da pauta, em compensação, o violino, por ser um instrumento de sons agudos, suas notas seriam escritas, consequentemente, somente numa região muito mais alta da pauta (haja linha suplementar, héin).
Chamamos de tessitura de um instrumento o conjunto de notas limitado pela sua extensão, ou seja, conjunto de notas compreendidas entre a nota mais grave e a mais aguda que esse instrumento consegue tocar. Por isso cada clave é específica para um grupo determinado de instrumento, de acordo com sua região tonal. Segue uma figura ilustrando a tessitura de vários instrumentos e sua escrita na clave de Sol e Fá combinadas. Observe a quantidade de linhas suplementares superiores, necessárias para escrever as notas do flautim, harpa e violino:


A Clave Funciona como uma assinatura abreviada. A linha Onde a clave for assinada receberá o seu nome, ficando assim estabelecida a posição das notas musicais. Cada clave pode ser assinada apenas em suas linhas específicas, conforme segue:

A Clave de Sol



A Clave de Sol é escrita (assinada) na 2ª linha da pauta, determinando assim que essa linha se chamará linha de Sol. É usada para instrumentos de som mais alto, como o Violão, Guitarra, Piano (para as teclas médias e agudas), Saxofone alto, tenor e soprano, Trompete, e outros.

A Clave de Fá



A Clave de Fá é escrita na 3ª ou 4ª linha dependendo do instrumento, e é usada para instrumentos de som grave como o Contrabaixo, Tuba, Trombone, Piano (para as teclas mais graves) e outros. Seu desenho lembra uma orelha. Como a Clave de Fá pode ser escrita nas linhas 3 ou 4 o que indica onde ela está sendo escrita são os dois pontinhos colocados entre a linha que se deseja. É escrita mais comumente na 4ª linha.

A Clave de Dó



A Clave de Dó é raramente utilizada, por ser mais antiga, foi escrita inicialmente para representar as vozes humanas (alto, tenor e mezzo-soprano), e podia ser escrita na 1ª, 2ª, 3ª ou 4ª linhas, conforme as vozes. Hoje em dia é usada mais frequentemente na 3ª linha. Um dos raros instrumentos que a utilizam é a viola. Seu desenho originou-se na letra "C", na verdade duas letras "C" desenhadas invertidas e sobrepostas. Essa Clave foi substituída, pela Clave de Sol para as vozes mais agudas e a de Fá para as notas mais graves.
Quando quisermos escrever qualquer nota, ou trecho musical na pauta de música, faz-se necessário a utilização da Clave, para sabermos com precisão quais notas estão sendo representadas.
Em alguns casos, instrumentos que possuem várias oitavas, precisamos utilizar a combinação de mais de uma Clave. É o caso do Piano. Isso é necessário porque o piano é um instrumento que abrange desde regiões das notas mais graves até as mais agudas, dizemos que ele possui uma tessitura maior (quantidade maior de oitavas, ou extensão maior).

O piano é um excelente instrumento para exemplificarmos a utilização das claves e do próximo conceito a ser estudado: O Dó Central. Mas isso deixaremos para o próximo tópico.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

10 - A Pauta Musical ou Pentagrama.

É a reunião de 5 linhas paralelas e equidistantes que guardam entre si 4 espaços. São nas linhas e nos espaços que escrevemos as notas musicais e são contadas de baixo para cima.
Recordando o Tópico 1- Introdução, dissemos que as sete notas musicais, quando tocadas na sequência natural, soam como se estivéssemos "subindo" uma escada, onde cada nota está em uma "altura" ou afinação acima da outra, ou seja, cada nota é mais aguda que a anterior, como acontece com os degraus. Essa analogia servirá para você entender onde escrever cada nota. Vamos supor que a primeira linha seja a linha onde se escreve a nota MI (apenas como exemplo), então a nota FÁ viria logo acima, no espaço, já que eles também servem para escrevermos as notas, seguida de SOL, na segunda linha, então as notas seriam escritas cada uma em sua devida linha ou espaço, conforme a analogia da escada. As linhas e espaços corretos para cada nota vai depender de um sinal chamado CLAVE, que estudaremos logo adiante.






Vamos aproveitar que já conhecemos as figuras e utilizar a semibreve para escrever a escala ascendente e descendente no pentagrama, supondo, por enquanto, que a 1ª linha seja a linha do MI.







Você já deve ter percebido que ao contar as linhas e espaços da pauta percebemos que poderíamos escrever apenas 9, no máximo 11 notas, mas como a escala é "infinita" precisaremos de mais linhas e espaços. Então lançamos mão das Linhas Suplementares Inferiores e Superiores, que serão usadas apenas quando necessário, funcionando como uma extensão da pauta musical.






O que realmente determina onde as notas serão escritas é um sinal chamado CLAVE. é o que aprenderemos a seguir.