O Violão é sem dúvida um dos instrumentos muito populares do mundo. Além de ser um instrumento de tamanho relativamente compacto, muito da sua popularidade se deve ao baixo custo de aquisição, ao som agradável que emite e ao fato de não necessitar de uma ligação elétrica, o que o torna um instrumento muito prático.
A História do Violão e sua Origem é no mínimo impressionante e curiosa, quando se pesquisa sobre o assunto encontramos sempre duas hipóteses possível a respeito de seu surgimento e evolução, conforme explicamos a seguir:
A História do Violão e sua Origem é no mínimo impressionante e curiosa, quando se pesquisa sobre o assunto encontramos sempre duas hipóteses possível a respeito de seu surgimento e evolução, conforme explicamos a seguir:
Primeira hipótese para a origem do violão: Khetara grega
O violão seria derivado da chamada Khetara grega, que com o domínio do Império Romano, passou a se chamar Cítara romana. Era também denominada de Fidícula.Teria chegado à península Ibérica por volta do século I d.C. com os romanos; este instrumento se assemelhava à Lira e, posteriormente foram acontecendo as seguintes transformações: os seus braços dispostos na forma da lira, foram se unindo, formando uma caixa de ressonância, à qual foi acrescentada um braço de três cravelhas e três cordas. A esse braço foram feitas divisões transversais (trastes), para que se pudesse obter várias notas de uma mesma corda, a ser tocado na posição horizontal. Assim, ficam estabelecidas as principais características do Violão.
Segunda hipótese para a origem do violão: Alaúde Árabe
Alaúde. De origem árabe, com larga difusão na Europa da Idade Média ao Barroco. Instrumento de 6 pares de cordas feitas de tripa. Cabeça dobrada para trás e fundo boleado. |
O Violão teria sido originado no antigo Alaúde Árabe. Esse instrumento foi levado para a península Ibérica através das invasões muçulmanas, por volta dos anos 711 – 718, sob o comando de Tariz.
O Alaúde Árabe que penetrou na península na época das invasões, foi um instrumento que se adaptou perfeitamente às atividades culturais da época e, em pouco tempo, fazia parte das atividades da corte. Esse instrumento musical era conhecido desde o século VIII, tanto o de origem grega, como o Alaúde Árabe, e viveram mutuamente na Espanha. Através das descrições feitas no século XIII, por Afonso, o sábio, rei de Castela e Leão (1221-1284), que era um trovador, se pôde comprovar que no século XIII existiram dois instrumentos distintos, convivendo juntos.
O primeiro era chamado de Guitarra Mourisca e era derivado do Alaúde Árabe. Este instrumento possuía três pares de cordas e era tocado com um plectro (espécie de palheta); possuía um som ruidoso.
O outro era chamado de Guitarra Latina, derivado da Khetara Grega. Ele tinha o formato de oito, com incrustações laterais, o fundo era plano e possuía quatro pares de cordas. Era tocado com os dedos e seu som era suave, sendo que o primeiro estava nas mãos de um instrumentista árabe e o segundo, de um instrumentista romano. Isso mostra claramente as origens bem distintas dos instrumentos, uma árabe e a outra grega; que coexistiram nessa época na Espanha. Vemos, portanto, como a origem do Violão e sua evolução estiveram intimamente ligadas à Espanha e a sua história.
Vihuela. Muito popular na Espanha e Portugal. Formato parecido com um 8. Seu fundo é plano e conta com seis ou sete pares de cordas feitas de tripa, que se acredita que afinavam em uníssono. |
O violão desenvolvido na Espanha passou a ser chamado de Vihuela. O mesmo tinha o formato de “oito”, com incrustações laterais, um fundo plano, além de seis até sete pares de cordas, feitas de tripa, as mais grossas eram entornadas de prata, afinadas geralmente em Sol, Dó, Fá, Lá, Ré, Sol, poderiam também serem afinadas em Dó, Fá, Sib, Ré, Sol, Dó, tocadas com os dedos, fato que resultava na geração de um som bastante suave. Os trastes eram feitos de tripa amarrados ao braço. Foi a partir da vihuela que surgiu o violão como conhecemos hoje, mas antes ele passou por várias transformações e evoluções, variando a quantidade de cordas duplas, às vezes duplas e simples.
Guitarra Renascentista. Séc. XVI |
A afinação não era padronizada, pois poderiam ser afinadas em Lá(1), Mi(2), Dó(2), Fá(2), sendo o Fá, que era o par de cordas mais grave era em oitava. Poderia também ser afinada em Lá(1), Mi(2), Dó(2), Sol(2), sendo o Sol, que era o par de cordas mais grave, afinado em oitava, por fim, também poderia ser afinada em Si(1), Fá#(2), Ré(2), Sol(2), sendo a corda Sol, que era o 4º par de cordas, era afinada a apenas meio tom acima do Fá#, ou seja, o 3º par de cordas era mais grave que o 4º par de cordas. Bem estranho, não? Os números entre parênteses ao lado das notas acima referem-se a quantidade de cordas na ordem de afinação. Esse instrumento tinha o braço mais curto com apenas oito trastes.
A Guitarra Renascentista evoluiu para a Guitarra Barroca, que passou a ter 5 cordas duplas, também feitas de tripa, afinadas em Mi, Si, Sol Ré e Lá.
Guitarra Barroca. Até fim do Séc. XVII |
Os trastes eram também feitos de tripa, e amarrados ao braço. O braço sofreu um pequeno alongamento ganhando mais dois trastes, somando um total de 10 trastes no braço e mais 3 sobre o tampo.
O próximo passo evolutivo foi a Guitarra Romântica, que passou a ter 6 cordas simples, tais como conhecemos hoje. Foi acrescentada a 6ª corda Mi, duas oitavas abaixo da 1ª corda. Gaetano Vinaccia (1759 a 1831), foi quem criou esse instrumento, em 1776, em Nápoles, na Itália.
O homem conhecido como “Pai do Violão Moderno” deixou sua marca permanente na história do violão e como ele é desenhado e tocado até hoje.
Guitarra Romântica. Cerca de 1800. |
Ainda era um pouco menor que o nosso violão atual, mas começou a ganhar dimensões maiores que a antiga guitarra barroca. Um detalhe, ainda possuía cravelhas de madeira para afinar as cordas e a cabeça possuía formato de oito. Mais tarde, as cravelhas de madeira foram substituídas por máquinas de afinação de metal, as tarraxas que conhecemos hoje.
Guitarra Romântica. foi feita por Gaetano Vinaccia em Nápoles, Itália em 1821. Em 1976 ele construiu a 1ª guitarra de 6 cordas |
Seus trastes foram mudados de tripas para ébano primeiramente, depois marfim e finalmente metal, aumentando em quantidade para um total de 19. Seu corpo começou a ganhar forma de oito mais acentuadas. Sua decoração limitou-se a apenas no entorno da boca e nas bordas do corpo.
Finalmente a Guitarra Moderna tal como conhecemos hoje, chamada pelo mundo afora de Guitarra Clássica. O nosso Violão. Com Formato de oito bem acentuado e caixa maior e mais larga em baixo na altura do cavalete. O tampo é reforçado para suportar as tensões das atuais cordas de nylon ou aço. A cabeça perdeu o formato de oito ganhando traços mais retos. Suas Tarraxas possuem engrenagens mecânicas em metal, do tipo carrilhão, com eixo de rotação paralelo ao plano da cabeça, 19 trastes metálicos, decoração apenas no entorno da boca.
A Guitarra Clássica (Violão atual). |
O Termo Violão
Esse instrumento, a Guitarra Clássica, chegou em Portugal, no século XVIII. Como era parecido com as Violas portuguesas mas possuía o corpo bem maior, seis cordas simples e sonoridade mais grave (por causa da 6ª corda acrescentada), passou a se chamar Violão (uma Viola grande). Esse termo foi utilizado em Portugal até meados do séc. XX, mas hoje é chamado apenas de Viola, já as antigas Violas portuguesas são chamadas de Viola de 10 Cordas. Aqui no Brasil, ocorreu o mesmo fenômeno linguístico, o termo Viola, já era utilizado para designar o ancestral do instrumento que hoje conhecemos como Viola Brasileira, Viola Caipira ou Viola de 10 Cordas. Quando esse novo instrumento desembarcou aqui no Brasil, no séc. XIX, o termo Violão foi imediatamente assimilado, visto que, ele era bem maior que a Viola.
Mas esse processo evolutivo não parou por aí, pois o próprio Violão deu origem a outro conhecidíssimo instrumento: a Guitarra Elétrica.
Curiosidade: somente no Brasil existe a palavra “Violão”. No resto do mundo, as pessoas se referem a este instrumento por “Guitarra Clássica”. Já a nossa Guitarra, para todo o resto do mundo, é a “Guitarra Elétrica”, realidade que gera confusão em muitas pessoas.
Abaixo uma imagem descrevendo a evolução do Violão a partir da Guitarra Renascentista. A evolução do Violão
1 - Guitarra Renascentista feita em 1581 pelo luthier Belchior Diaz, (4 cordas duplas)
2 - Recriação da Vihuela Renascentista, Séc. VX, (6 cordas duplas).
3 - Guitarra Barroca do famoso luthier Stradivari, de 1700, (5 cordas duplas).
4 - Guitarra Romântica, do luthier Louis Panormo, de 1830, já com tarrachas (6 cordas simples).
5 - Guitarra da Segunda Época, 1888, reconhecidamente moderna, (6 cordas simples).
6 - Guitarra atual, (6 cordas simples).
Referências Bibliográficas:
· A Evolução do Violão na História da Múscica /
autor: Eduardo Fleury Nogueira / 1991 / São Paulo.
· História do Violão / autor: Norton Dudeque /
1958 / Curitiba.
· The history of musical instruments. Curt Sachs,
W. W. Norton & Company, Inc., 1941
· The Medieval Gittern and Citole: A case of
mistaken identity. Laurence Wright, The Galpin Society Journal, number xxx. May
1977
· Los instrumentos del Pórtico de la Gloria su
reconstrucción y la música de su tiempo.Coordinación: José Lopez-Calo. Fundación
Pedro Barrié de la Maza, Conde de FENOSA, 1993.
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